domingo, 26 de março de 2017

BOLETIM 3 ANO XII

A LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL E NO MUNDO

Destaques: Profissionais sofrem ameaças e agressões em MT, RS e SP. Jornais do RJ criam equipes de checagem de notícias. Mais uma morte de jornalista no México. RSF cria centro de mídia para mulheres no Afeganistão.

Notas do Brasil
Vila Bela da Santíssima Trindade (MT) - O repórter Bruno Abbud e o fotógrafo Ednilson Aguiar, do portal O Livre, foram ameaçados de prisão por policiais e fiscais da Secretaria do Meio Ambiente de MT em 20 de março. O carro da equipe foi interceptado por uma viatura numa estrada rural próxima à fronteira com a Bolívia. Os policiais, armados com metralhadoras, perguntaram se os profissionais tinham fotografado a “fazenda do ministro”. O ministro é Eliseu Padilha, sócio de uma propriedade rural situada no Parque Estadual da Serra de Ricardo Franco, e condenado pela Justiça de MT por danos ambientais. A equipe entrou na fazenda de Padilha para apurar a existência de uma pista de pouso e chegou a conversar com funcionários. Mas, diante dos oficiais, a dupla de profissionais optou por não contar a verdade. O fotógrafo mostrou imagens de máquinas agrícolas outras localidades da região e a equipe foi liberada.

Antonio Prado (RS) - O jornalista Ronei Marcílio, da Rádio Solaris, foi agredido por cerca de 15 pessoas ao cobrir uma ocorrência de assassinato na noite de 8 de março, no bairro Aparecida. O jornalista, ao chegar ao local, viu que os moradores estavam tentando linchar o suspeito do crime. Marcílio, então, começou a fazer imagens de um ponto afastado. Quando se aproximou, as pessoas o cercaram e começaram a agredi-lo a chutes e pontapés. Chegaram a retirar a máquina de suas mãos que, depois, foi recuperada por um dos bombeiros.  No dia seguinte, registrou ocorrência na delegacia da cidade.

São Paulo (SP) I – O juiz federal Sérgio Moro, responsável em primeira instância pela Operação Lava Jato, determinou em 23 de março a exclusão do processo de todas as provas relacionadas ao blogueiro Eduardo Guimarães, responsável pelo Blog da Cidadania, que havia sido levado coercitivamente pela Polícia Federal (PF) para depor dois dias antes. O juiz foi alvo de críticas de entidades que alegaram que a ação feria a liberdade de imprensa e o sigilo da fonte, princípio que dá ao jornalista o direito de não revelar quem lhe deu as informações. O blogueiro considerou que não havia motivo para ter sido levado coercitivamente, já que nunca se negou a prestar depoimento, e ainda falou que a medida tinha como objetivo quebrar o sigilo de uma fonte. Entidades de classe repudiaram o procedimento policial.

Campo Grande (MS) – O jornalista Fausto Brites, do Correio do Estado, foi absolvido num processo por calúnia e difamação movido pelo ex-chefe de gabinete da prefeitura, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do MS (TCE-MS). O político entrou com a ação por causa da reportagem “Endereços investigados coincidem com lixogate”, publicada em março de 2005. O texto revelou que um local devassado pela Polícia Federal na Operação Pégasus já tinha sido palco de outro escândalo: em 1999, no caso “lixogate”, o local servira de endereço para um consórcio forjado para fraudar licitação da exploração de resíduos sólidos. Osmar, como chefe de gabinete da prefeitura, chegou a presidir a empresa municipal Conlurb que teria participado do esquema.

São Paulo (SP) II - A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a ONG Transparência Brasil lançaram o portal Achados e Pedidos onde quaisquer pessoas e instituições podem postar os pedidos e as respostas de Lei de Acesso à Informação (LAI) que tenham feito e buscar os pedidos já postados por outros usuários. Os principais objetivos da iniciativa são a redução de trabalho duplicado de pedidos já feitos e monitoramento dos dados gerados.

São Paulo (SP) III - Os fotógrafos Carlos Gildário Lima de Oliveira e Marcelo Carneiro da Silva foram atingidos por tiros de arma de fogo em 23 de fevereiro durante a Operação Nova Luz, realizada pela Polícia Militar no centro da cidade. Um disparo acertou a coxa de Carlos, que foi medicado em um pronto socorro. Marcelo não se feriu gravemente porque o tiro acertou o celular que o fotógrafo carregava no bolso.

São Paulo (SP) IV – O jornal Folha de S. Paulo foi condenado por danos morais por omitir nome da jornalista e diagramadora Renata Maneschy como coautora da premiada reportagem Boyhood Bolsa Família. O especial veiculado em 2015 foi vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo como a “Melhor Contribuição para Imprensa” no ano e, em seguida, conquistou o Grande Prêmio Folha. A juíza Daniela Mori, da 89ª Vara do Trabalho de SP, decidiu que o impresso deve pagar R$ 30 mil pela conduta e corrigir os arquivos e registros do jornal para constar a informação de que Renata participou da reportagem especial, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. O advogado da jornalista explica que a comunicadora estava creditada na produção jornalística, porém, após ser demitida, teve seu nome retirado do especial.

Rio de Janeiro (RJ) – Os jornais O Globo e Extra criaram grupos de trabalho para checar e combater disseminação de notícias falsas. Comandados pelos jornalistas Fábio Vasconcellos e Octavio Guedes, respectivamente, as equipes vão oferecer aos leitores condições para que eles tomem decisões baseadas em informações verdadeiras. No jornal O Globo, o projeto de checagem de fatos se chama ‘É isso mesmo?”. Trata-se de um blog onde as informações checadas serão publicadas. Ao acessar a página, é possível ver que a equipe esclareceu se a Europa é realmente o maior alvo de ataques terroristas no mundo. No Extra, a página que divulga as informações checadas se chama “#Éverdade ou #Éboato“. O projeto do Extra já desmascarou boatos divulgados pelo WhatsApp sobre a vacina contra a febre amarela e a falsa notícia de que o pagamento do salário da segurança no RJ seria bloqueado. A informação foi desmentida pela Secretaria de Fazenda.

Pelo mundo
México – O jornalista Cecilio Pineda Birto, diretor do diário La Voz de la Tierra Caliente e colaborador dos periódicos El Universal e El Debate, foi assassinado a tiros em 2 de março, em Ciudad Altamirano. Cecilio cobria o noticiário político com postura crítica ao governo local, já tendo sofrido ameças em outras ocasiões.  

Bielorrússia - Pelo menos 19 jornalistas e blogueiros foram detidos quando cobriam a repressão às manifestações em cidades por todo o país desde 10 de março. Inúmeras sentenças de prisão já foram aplicadas sob a alegação que profissionais participavam dos protestos.

Angola – A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) denunciou a suspensão dos canais portugueses SIC Notícias e SIC Internacional do pacote por satélite da operadora angolana ZAP e expressa a sua preocupação pelo clima de repressão à liberdade de informação no país, a poucos meses das eleições gerais. A decisão foi tomada pouco depois da difusão, já neste mês de março, de uma investigação sobre um escândalo financeiro de 2014, envolvendo o presidente José Eduardo dos Santos. Em novembro do ano passado, o canal português já havia incomodado o regime após a transmissão da reportagem “Angola, um país rico com 20 milhões de pobres”, questionando o patrimônio de Santos, no poder há 37 anos.

EUA - O secretário geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Christophe Deloire, e o diretor do Comitê de Proteção aos Jornalistas (C PJ), Joel Simon, reuniram-se com o secretário geral da ONU, Antonio Guterres, para falar sobre o apelo lançado por uma coalizão internacional pela criação de um Representante Especial das Nações Unidas para a segurança dos jornalistas. A reunião contou também com a presença de Dave Callaway, apoiador dessa iniciativa e candidato à presidência do World Editors Forum da associação Wan-Ifra. A julgar pelas estatísticas, a adoção de inúmeras resoluções da ONU para a proteção dos jornalistas e a luta contra a impunidade não permitiu que se obtivesse resultados concretos. Ao contrário, os cinco últimos anos foram os mais mortíferos para os jornalistas, com centenas de mortos. Somente em 2016, 78 jornalistas foram assassinados, segundo a RSF. E a maioria dos crimes permanece impune.

Afeganistão – A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) inaugurou em 7 de março o primeiro Centro de mídias destinado à proteção das jornalistas afegãs. Para a ocasião, a direção da ONG foi à capital Cabul para uma cerimônia que contou com a presença de inúmeras personalidades políticas e da sociedade civil. Dirigido pela jornalista Farideh Nekzad, o Centro é a primeira organização afegã criada por e para mulheres jornalistas.
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A Associação Riograndense de Imprensa (www.ari.org.br) disponibiliza o correio eletrônico imprensalivre@ari.org.br aos profissionais e estudantes da comunicação social para as denúncias envolvendo atentados ao livre exercício da profissão de jornalista.
O programa Conversa de Jornalista, transmitido aos sábados pela Rádio da Universidade AM 1080 Mhz, de Porto Alegre (RS), apresenta a resenha semanal das ocorrências nacionais e internacionais sobre liberdade de imprensa e expressão.
Fontes: ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional deJornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Fórum Mundial dos Editores e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

Pesquisa e edição de Vilson Antonio Romero

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